Toda Vida Nasce de Uma Esfera, Dentro de Uma

Reflexões sobre o escapismo

Introdução

Do feto à semente, ao mundo — toda vida nasce de uma esfera e passa sua existência dentro de outra: o planeta Terra. Nunca sabemos com certeza o que há por fora, apesar de terem sido feitas algumas expedições astrológicas, mas aqui falo sobre as expedições de dentro, da nossa mente, do escapismo, onde a imaginação cria possibilidades livres, permitindo-nos viver fora do comum.

Nesta pesquisa, explorarei o escapismo sob diferentes perspectivas, tanto na criação artística quanto em seu papel na sociedade. Em resumo, o escapismo reflete a busca pelo desconhecido diante da monotonia da vida. Embora muitas vezes seja visto negativamente, discutirei como ele está presente em nossas vidas e como pode ser uma força positiva na criação artística, oferecendo uma fuga que enriquece a imaginação e abre portas para novas possibilidades de expressão.

 

O Escapismo na Psicologia e Sociedade

O escapismo está presente fortemente presente nas artes sendo obtida pela imaginação ou em forma de entretenimento. Na Psicologia, o escapismo pode funcionar como um mecanismo de defesa, ajudando as pessoas a evitar enfrentar situações difíceis. Essa fuga temporária pode proporcionar alívio emocional, permitindo que os indivíduos lidem melhor com o estresse e a ansiedade. Para alguns, ele pode ser uma ferramenta de autocuidado, proporcionando um espaço seguro para relaxar e se reconectar consigo mesmo. No entanto, quando se torna excessivo, pode levar à alienação e o isolamento. Na sociedade, as redes sociais também desempenham um papel significativo no escapismo moderno, oferecendo plataformas para se conectar com outras pessoas, mas também permitem que os indivíduos se isolem em suas bolhas, consumindo conteúdo que os distrai da realidade.

Durante a pandemia de 2020 a 2022, o distanciamento social forçado afetou profundamente a maneira como nos relacionávamos. Interações que antes aconteciam em encontros foram substituídas por mensagens e chamadas de vídeo, e a socialização, que antes era natural, tornou-se algo “artificial”. O “Novo Normal” levou muitas pessoas a buscar novas maneiras de enfrentar o isolamento. Com a internet como principal fonte de entretenimento e conexão, muitos passaram a explorar atividades que antes não faziam parte de suas rotinas, buscando novos hobbies e criando formas de tornar o dia a dia mais agradável. Isso tudo trouxe um pouco de alívio e ajudou a manter uma sensação de propósito e até de estabilidade. Ainda assim, o isolamento teve um impacto emocional significativo, e a falta de contato humano direto afetou tanto o bem-estar emocional quanto a saúde mental de muitos. Foi desafiador voltar a socializar depois do fim da pandemia, muitas pessoas ainda tiveram um tempo maior para poder se reestruturar.

 

O Escapismo como Expressão Artística

Embora o escapismo seja muitas vezes visto de forma negativa, ele também oferece caminhos construtivos, especialmente para a criatividade. A liberdade da imaginação é, por si só, uma forma de escapismo, permitindo-nos explorar novas possibilidades e ampliar nossa visão de mundo. Usado de maneira consciente, pode ser um meio de transformação e enriquecimento pessoal. Quando saímos por um momento do que nos foi programado, podemos nos sentir livres de pensamento e de alma, colocando-nos em ambientes que nos faz se sentir bem ou apenas por divertimento. Podemos pensar de forma consciente num estado escapista, um exemplo é quando estamos tentando dormir, muitas vezes nos imaginamos em lugares com paisagens bonitas que nós faz relaxar, e distanciando um pouco de pensamentos da rotina como trabalho, afazeres.

Procuro utilizar do escapismo não apenas para meu próprio bem-estar, mas na arte, ele se tornou bastante presente para acessar esses ambientes com muita mais liberdade e possibilidades, busco pela minha mente ambientes e elementos para construir o fantasioso, contraditório. Depois de experenciar este momento consigo racionalizar sobre tudo o que minha mente trabalhou, revelando se aquilo é relevante e de alguma forma tornando-a mais rica para uma criação que eu vir a fazer

 

Toda Vida Nasce de Uma Esfera, Dentro de Uma

Um feto, uma semente, o mundo, nascemos de uma esfera, diretamente dentro de uma: o planeta terra. Fugir da redoma, da esfera, do mundo, nos torna seres incapazes de enfrentar o real, não sendo possível se entregar totalmente ao escapismo, e isso sujeitaria o desaparecimento de nosso reflexo dentro da esfera. A esfera que me persegue refletindo a realidade e que se distancia refletindo o desconhecido, também me reflete e nunca sei se estou indo ou voltando, mas quando ela se evade distante, mal me enxergo dentro dela e muitas vezes me torno apenas um ser livre.

A ideia de que tudo nasce de uma esfera em uma pode ser interpretada como uma metáfora para a origem das coisas e o destino de tudo que é vivo. Ela nos faz refletir sobre a ideia de limitação. quando estamos todos “dentro” de esferas, sejam bolhas sociais, culturais, ideológicas ou biológicas. Em várias culturas e filosofias, a esfera representa o universo, a perfeição ou o ciclo da vida, onde não há início nem fim visível, uma esfera gira infinitamente e não é possível ver o fim dela, como nós na Terra e o fim de nossa existência. É difícil imaginar ou compreender o que existe e o que posso existir além dela pois apesar de tentarmos buscar sinais pelo fim, nunca é claro. Esse pensamento não implica a falta de liberdade total, mas sugere que nossa visão do mundo e nossas escolhas são limitadas pelas esferas em que vivemos. Mesmo com essas limitações, ainda temos escolhas e uma certa liberdade para explorar nosso mundo interno de imaginação. Ao olhar para a vida como uma série de esferas, percebemos que fazemos parte de algo que parece pequeno, mas no nosso interior é gigante, haverá algo a descobrir dentro de nossa própria esfere, mesmo que seja uma condição giratória infinita.

Penso que se essa relação não fosse infinita seria experenciar outro tipo de forma, tal como a comparação de existir pessoas quadradas em que há maiores limitações de imaginação. Nessas pessoas a imaginação muitas vezes passam por filtros de normalidade. O escapismo ainda funciona da mesma forma porém há conforto em se ver num espaço previsível e ordenado. De modo geral, existe muitas maneiras e temas em que um indivíduo tenha pensamentos escapistas.

 

Conclusão

Não é sobre as imagens que crio mas sim como nós percebemos dentro delas e dentro do escapismo pode ser uma forma de conectar-se com o desconhecido e, ao mesmo tempo, de buscar sentido a si mesmo. ‘’Surrealismo é o espírito do sonho aliado à realidade, é a realidade como poderia ser, é a realidade impregnada de poesia. Não é místico, depende apenas do que existe, mas combina os dois para produzir um mundo totalmente livre.’’. O surrealismo é a pura essência escapista e é há a riqueza de se ver o mundo livre em imaginação. De certa forma, é desafiador e corajoso abordar temas neste assunto, principalmente em criações particulares desses mundosem que todos podem experênciar coletivamente do momento escapista do artista. O compreendimento deste só reforça o grau e quanto o escapismo está presente na vida de uma pessoa. É como muitos contemplam galerias de arte e exclamam que não entender algumas obras. Talvez seja essa falta de linearidade e clareza o que permite que o escapismo nos revele, enquanto buscamos entender o mundo exterior, acabamos encontrando reflexos de nós mesmos para depois aplicarmos na realidade que vivemos coletivamente. Será que sempre precisamos filtrar nossa imaginação e interpratações onde apenas seria aceito para todos como normal? Pensar que o desconhecido e o incompreendido também podem ser belos por estarem “abertos” ao sentimento individual é contemplativo por si só, onde algo que escapa da compreensão, é parte do que torna o escapismo tão ilimitado e revelador para nosso próprio sentido. A ideia de que a esfera gira eternamente onde “não se sabe se está indo ou voltando” há o paradoxo de tentar escapar: nunca se afastamos completamente de onde viemos, mas, no entanto, não ficamos parados, podendo nos ver refletindo na esfera de longe ou de perto. O grau de afastamento é o tanto que somos escapistas, de longe a individualidade, de perto a normalidade aceita. A vida é uma viagem circular, onde o escapismo, no final das contas, revela mais sobre nós mesmos do que sobre o que está “fora”. Em particular, gosto de me ver refletindo na esfera não tão distante mas nem tão perto, possibilitando colocar um pouco de racionalidade e sobriedez. Não me ver tão nítido por ela me dá possibilidades de ser “qualquer coisa“ mas diante da minha silhueta é possivél perceber que sou um elemento que existe, uma forma humana.